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domingo, 8 de agosto de 2010

A Livraria



Todos os sábados João pegava o metrô e descia no centro. Caminhava uma quadra e chegava à livraria. Era seu mundo onde se sentia tão bem, e perdia noção das horas. Começava percorrendo as estantes tocando nos livros e apreciando as capas.


Observava as pessoas ao redor. Alguns poucos casais, raras crianças e muitos solitários. Na verdade, adoraria conhecer alguém interessante. Sobreviver naquela cidade cinza sem um par era bem frustrante. Passava os dias, sem conversar com ninguém, fora do trabalho. Nem sabia quem eram seus vizinhos e tinha poucos amigos.


No entanto, suas tardes de sábado se limitava em permanecer horas na livraria. Passava infinitos minutos lendo páginas, folheando as biografias e no final escolhia o mais interessante. Não ligava para as melhores indicações de lançamentos, seguia o seu instinto e nunca se arrependia. Depois de realizar sua escolha, levava o livro para a simpática senhora do caixa que sempre lhe dava o troco com um leve sorriso no rosto.


A semana passava rápido, seu trabalho era cansativo, esperava ansioso o fim de semana para se acomodar no seu lugar preferido. Enfim, os dias passaram, chegou o sábado pegou o metrô novamente e desceu no centro. Quando chegou à livraria começou a olhar as estantes, mais percebeu que havia algo diferente. Entrou pelos corredores rodeado de livros. Nada estava do mesmo jeito, os livros estavam organizados de uma forma totalmente perfeita, um perfume diferente ele encontrava no ar. Aquele lugar nem parecia mais o mesmo.


Entre os diversos tipos de livros que havia naquela loja, ele sabia detalhadamente onde ficava cada um, era como se aquilo fizesse parte do seu ser. Mas, por incrível que pareça, naquela mesma tarde, os livros não estavam mais do jeito que ele gostava de observar, por um lado ele aprovou a delicada maneira de organizar os livros nas estantes, porém, tudo parecia tão confuso. Resolveu então, perguntar para a simpática senhora do caixa o motivo daquela mudança repentina.


Chegando próximo do caixa aquele perfume encantador ficava cada vez mais forte, logo percebeu que tinha outra pessoa no lugar daquela simpática senhora. Aproximou-se do caixa enquanto uma jovem moça limpava as prateleiras atrás do balcão. Simplesmente ele não conseguiu deixar de reparar na beleza daquela jovem. Ficou inconformado com tanta perfeição. Nem mesmo na sua fértil imaginação, poderia imaginar o que aquela linda mulher reservava para o seu coração. Clara, era uma mulher diferente, não somente na aparência discreta, quase tímida no comportamento, mas especialmente pela beleza física diferenciada. Naquele momento, ficou sem palavras, a moça olhou com um leve sorriso no rosto, mas nenhuma palavra foi pronunciada naquele instante, apenas olhares em meio a pensamentos confusos.


Voltou para casa, ainda paralisado com aquela pessoa tão encantadora. No seu quarto, dentro das suas quatro paredes ficou perdido em pensamentos, tentando entender de onde vinha aquele sentimento tão profundo que ele jamais tinha sentindo antes, tinha a convicção que estava amando mais que qualquer outro mortal, que em qualquer outro tempo jamais amou, ou viria amar. Um pouco atordoado fechou os olhos e em seus sonhos só enxergava aquele rosto angelical.


Quando o sol se pôs, ele acordou junto com a aurora da manhã, não conseguia por um segundo imaginar esperar o fim de semana para ver aquela moça de beleza radiante. Naquela mesma manhã de domingo, saiu de casa o mais rápido possível, seu desejo de ver novamente aquela jovem era muito intenso.


Quando chegou à livraria, foi direto aos fundos da loja onde ficava o caixa, de longe ele a enxergou. Chegando perto do balcão observou aquela beleza que nem mesmo toda a mitologia grega chegava próximo ao encanto que seus olhos viam. Iniciou uma breve conversa com a moça pedindo desculpas por ter saído da loja daquela maneira tão repentina. Ela o olhou e respondeu balançando a cabeça que estava tudo bem. João sem pensar, resolveu escrever um pequeno bilhete para convidar a moça para sair, ela com um sorriso que surgiu naturalmente, como se fosse um sol dourado afastando a névoa dos dias nublados, leu o bilhete e aceitou seu convite.


Marcaram de sair no sábado depois do expediente. João esperava ansioso chegar o próximo fim de semana, para poder enfim declarar seu intenso e puro amor para aquela jovem um amor tão forte que chegava penetrar sua alma. Deitado em sua cama, o perfume de sua amada o embriagava fazendo levar seus pensamentos para os sonhos dos apaixonados.


A semana dessa vez parecia passar lentamente, as horas eram incontáveis e os segundos pareciam durar uma eternidade. Não agüentando o sábado chegar, foi na quarta-feira, depois do trabalho, buscar sua amada na livraria.


Era uma noite fria e chuvosa, quando chegou na livraria, encontrou a simpática senhora fechando as portas da loja. João sem entender, perguntou onde estava Clara a jovem que trabalhou ali durante as últimas semanas. A senhora dessa vez, não o olhou mais com aquele leve sorriso no rosto. Na verdade, seu rosto parecia sério demais. Um pouco nervosa, ela disse que a jovem Clara tinha sofrido um sério acidente enquanto voltava para casa no domingo, chegando a não sobreviver. Quando a encontraram na rua ela estava segurando apenas um bilhete nas mãos.


João ficou desesperado com essa notícia, voltou para casa totalmente abalado e atormentando, não agüentando saber da morte da sua amada, a única solução que encontrou foi tomar uma dose de veneno para aliviar a dor que deixava o seu ser tão aflito. Enfim, quando sentiu seu coração batendo mais forte descobriu que a única solução para está livre daquele sentimento, seria tirar a própria a vida. Afinal o amor de Clara e João ultrapassavam as fronteiras do universo, sendo um amor em quantidade e qualidade superior ao mais exagerado dos sonhos, o mais amplo do universo aquele amor intenso puro e verdadeiro impossível de ser compreendido por qualquer outro mortal.

Débora Gonçalves.